18 de agosto de 2014

A tristeza do jovem rico e da modernidade

No Evangelho de Mt 19,16-22, um jovem vai até Jesus e pergunta: “Mestre, que devo fazer de bom para possuir a vida eterna?” E Jesus indica a vida dos mandamentos. Mas o jovem declara: “Tenho observado todas essas coisas. Que ainda me falta?”  E Jesus respondeu: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. E o jovem quando ouviu isso, foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico. Essa meditação ecoa em mim e me ajuda contemplar o quanto é revolucionário crer, ser santo e seguir a Jesus.
A tristeza do jovem rico não ficou "naquele tempo", ela é atual, é a tristeza da modernidade. São inúmeras as pessoas que querem a vida eterna, querem a perfeição, querem Deus, mas não conseguem renunciar suas riquezas, suas posições confortáveis.
Os jovens ricos entristecidos estão por aí, continuam fazendo as práticas de mandamentos e nada mais, são amargos, briguentos, rigorosos, perpetuam lideranças vazias em pastorais, são os jovens-velhos, declaram-se ex-vocacionados e se justificam que pra servir a Deus qualquer coisa serve e em qualquer lugar.
A tristeza do jovem rico é a escravidão ao ter, é o apego aos bens materiais, é o egoísmo. Muitos falam que a Vida Religiosa foi ultrapassada, é coisa antiga, superada, sem sentido, pois acabaram as vocações, os conventos estão vazios, os religiosos estão envelhecidos, há saída frequente dos mais jovens, enfim, está em crise a Vida Religiosa. Mas o que houve com o chamado? Deus parou de chamar ou nunca chamou ninguém?
Mas o certo é que a crise da Vida Religiosa, é a mesma crise da vida familiar, das instituições, das produções academias, é a crise da própria humanidade, é a crise do antropocentrismo, da razão. Não foi só o número de religiosos, padres e casamentos que diminuiu. Nossa humanidade, moderna e tecnológica, também tem poucos gênios, poucos revolucionários, poucos místicos. Estamiraprotagonista do documentário homônimo, ao tratar sobre pessoas formadas e especialista, dizia que temos "copiadores" apenas, e esta senhora, com transtorno mental, parecia ter razão. Qual será o porquê dessa crise aguda, complexa? Não sei, mas na humildade desta reflexão, compreendo ser a tristeza do jovem rico a mesma da modernidade.
Santo Agostinho, dizia que a esperança tem duas filhas, a indignação e a coragem. Para ele, a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão e a coragem, a muda-la. Pra mim a tristeza da humanidade tem haver com esse falta de indignação, de coragem. A exaltação da razão acabou por quietar a esperança da humanidade, a mesma situação do jovem rico que, pensando sobre sua riqueza, quietou em si a esperança de Vida Eterna.Temos poucos gênios, revolucionários, místicos porque os estímulos dos homens e mulheres modernos são virtuais, tecnológicos e racionais. Indignados e corajosos são poucos, porque tudo que exige ousadia, esperança tem poucos seguidores, por isso a filosofia de que Deus morreu e de que morreu porque o homem o matou (como se fosse possível ao homem matar o próprio Mistério). Ora, decretar a morte de Deus é mais simples do que ousar, ter coragem de experimentar o Mistério, a mística de ser humano e de querer o supremo, a Vida Eterna, Deus. Para os riscos que a fé, a esperança e caridade exigem, nossa humanidade está despreparada. Ter fé é uma atitude de demasiada coragem e ousadia, porque é correspondência ao Amor. Não consegue ter fé em Deus quem não tem coragem de amar, porque quem ama de verdade corre riscos, ousa, revoluciona a vida, espera, cuida do mistério, do inexplicável, irresistível que há em cada alma humana, em cada sentimento nobre do ser humano. A fé não está em crise, o humano sim.
Confesso que me assusta observar, em nossa geração, a ausência da nobreza de sentimentos. As guerras se expandem, os crimes são bárbaros, a injustiça social crescem assombrosamente. Somos tão virtuais, tão tecnológicos, tão devotos e ao mesmo tempo tão insensíveis, sem nobreza de espírito. O que será das futuras gerações que educamos institucionalizados, à distancia da família, da vivência comunitária? Contudo, não perco a esperança e sei que, como aconteceu com os discípulos de Emaús, em cada partir o Pão da Vida, na vida, meu coração pode se aquecer e então reconhecer a presença de Deus Conosco, Encarnado, o Mistério que me ama e me faz amar, ousar, revolucionar, me dá coragem de indagar as situações injustas e de querer mudar a direção. Eu creio e sei que Deus continua chamando pessoas à Vida Religiosa. Como continua chamando pessoas à vida familiar, ao sacerdócio. Deus continuar gerando gênios, artistas, místicos, revolucionários. Deus não morreu. A tristeza dos homens e mulheres da modernidade é tão evidente quanto o pouco números dos jovens que perderam sua vida por Amor, para ganhar a Vida Eterna. A tristeza da modernidade é a falta de coragem de continuar envolvendo-se no Mistério, de querer a Vida Eterna, de revolucionar a própria acomodação, o egoísmo. A tristeza da modernidade é a do jovem rico que não ousou vender suas riquezas, dá aos pobres e seguir Jesus, porque Ele sim, é Caminho, Verdade e Vida.

Deus é Deus de mais. Eu não me arrependo de perder minha vida por Amor e de seguir Jesus.

Ir. Cidlene da Eucaristia

2 de agosto de 2014

Uma vocação ao Amor

Com alegria partilhamos o testemunho vocacional de Santa Teresinha:

«Apesar da minha pequenez, quereria esclarecer as almas como os Profetas, os Doutores. Tenho a vocação de ser Apóstolo... Quereria percorrer a terra, pregar o teu nome, implantar no solo infiel a tua cruz gloriosa; mas, ó meu Bem-amado!, uma missão só não me bastaria. Quereria, ao mesmo tempo, anunciar o Evangelho nas cinco partes do mundo, e até nas ilhas mais longínquas... Quereria ser missionário não apenas durante alguns anos, mas quereria tê-lo sido desde a criação do mundo até à construção dos séculos... Mas quereria, sobretudo, ó meu Bem-amado Salvador, derramar o meu sangue por Ti, até à última gota...
Como estes desejos constituíam para mim um verdadeiro martírio durante a oração, abri as Epístolas de S. Paulo, a fim de procurar alguma resposta. Os meus olhos depararam com os capítulos 12 e 13 da primeira Carta aos Coríntios. Li no primeiro que nem todos podem ser apóstolos, profetas, doutores, etc...; que a Igreja é composta por diferentes membros, e que o olho não poderia ao mesmo tempo ser a mão...

A resposta era clara, mas não satisfazia os meus desejos, não me dava a paz... Como a Madalena, inclinando-se sem cessar junto do túmulo vazio, acabou por encontrar o que procurava, assim eu, abaixando-me até às profundezas do meu nada, elevei-me tão alto que pude atingir o meu fim... Sem desanimar, continuei a leitura, e consolou-me esta frase: «Procurai com ardor os dons mais perfeitos, mas vou mostrar-vos ainda um caminho mais excelente». E o Apóstolo explica como todos os dons mais perfeitos nada são sem o Amor..., que a Caridade é o caminho excelente que conduz seguramente a Deus. Finalmente encontrar o repouso... Considerando o corpo místico da Igreja, não me tinha reconhecido em nenhum dos membros descritos por S. Paulo; ou melhor, quereria reconhecer-me em todos... A caridade deu-me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja tinha um corpo composto de diversos membros, o mais necessário, o mais nobre de todos não lhe faltava: compreendi que a Igreja tinha um coração, e que esse coração estava ardendo de amor. Compreendi que só o Amor fazia agir os membros da Igreja: que se o Amor se apagasse, os apóstolos já não anunciariam o Evangelho, os mártires recusar-se-iam a derramar o seu sangue... Compreendi que o Amor encerra todas as vocações, que o Amor é tudo, que abarca todos os tempos e todos os lugares... numa palavra, que é eterno!... Então, num transporte de alegria delirante, exclamei: «Ó Jesus, meu Amor! Encontrei finalmente a minha vocação: a minha vocação é o Amor!...»

Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e esse lugar, ó meu Deus, fostes Vós que mo destes... No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor... Assim serei tudo..., assim o meu sonho será realizado!!!...»

Santa Teresinha do Menino Jesus - carmelita
História de uma Alma, Manuscrito B, 2vº - 3rº. 

8 de julho de 2014

A compaixão de Cristo e o apelo missionário

Hoje, dia 08 de julho de 2014, ao meditar o Evangelho de Mt 9, 32 - 38 fiz a meditação da compaixão de Jesus pelo povo e o apelo missionário que ecoa de sua Palavra. O evangelho inicia com a cura do possesso mudo, v.32 "apresentaram a Jesus um homem mudo, que estava possuído pelo demônio." e v. 33 "Quando o demônio foi expulso, o mudo começou a falar." O que Jesus fez, faz hoje. Há, ainda demônio capaz de emudecer pessoas e Jesus tem poder de o expulsar e de fazer o mudo voltar a falar. 
Atualmente percebermos que, como naquele tempo, há demônio emudecendo as pessoas missionárias, lideranças pastorais e intercessores. A cada dia, vemos as pessoas anunciando suas saídas e propagando suas desistências de missão assumidas. Tem sido bem comum lideranças religiosas leigos, padres e freiras ociosas, acomodadas, omissas, cansadas, sem animo, abatidas, triste e saudosas de outros tempos. E aí, o que pode ser isso? A morte de Deus, a supremacia humana? E o amor de Deus, sua bondade e misericórdia, quem falará, quem anunciará, quem  promoverá? A urgência da missão também é para hoje, precisamos crer. Vemos evangelizados voltando atrás do que renunciaram, povo sem experimentar e perseverar no amor de Deus.
À luz deste Evangelho, acolho a verdade e a possibilidade de esta situação ser manifestação do demônio que emudece  e cala a voz dos profetas. Desnudada de explicações teológica, reflito assim. Se como Igreja, tivermos a humildade de aceitar essa condição e nos abrimos à Salvação em Jesus, Ele tem poder de expulsar esse demônio e recobrar a fala ao mudos.
É da compaixão de Cristo pelo situação do povo que ecoa o forte apelo missionário, v36."Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor." Então, em Jesus recobramos ânimo e alegria missionária, Ele nos fará sempre perseverar no anuncio, na evangelização e na oração pelo missionário pois, v.37“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos."
A compaixão de Jesus pelo povo é imensa, a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Jesus nos alerta: ser poucos, não é o limite. A atenção à compaixão de Jesus pelo povo é uma experiência libertadora, que nos envolve desse mesmo olhar de Jesus, que provoca respostas ao apelo missionário. É hora de nos libertar, é tempo de missão.
Teresitas, somo poucas, mas isso não quer dizer que somos desnecessárias. Fazemos parte do pequeno grupo de discípulos missionários que, na humildade, mantem-se atentos à compaixão de Jesus pelas ovelhas, e ao forte apelo missionário. Somos poucas, mas estamos em resposta e em postura de prontidão, juntamente ao pequeno resto de perseverantes. Ânimo, alegria e firmeza! Seja expulso do nosso meio, em nome de Jesus, o demônio emudecedor! Perseveremos evangelizadoras propagando o amor de Deus, convocando a todos, e a nós mesmas, ao encontro com Cristo, o Bem maior. Perseveremos intercessoras do clero e fieis a esse carisma e não desanimemos, firmes até o descanso da última alma teresita ou até o ultimo clero que precisar de oração. Porque quem nos chamou foi Deus, quem nos quis e nos envia é Ele, logo só Ele pode nos dispensar! Nossa liberdade e alegria está na vontade de Deus e essa verdade é maior que nossa pequenez. Nada mais, isso basta.

A Deus toda glória. Amém 

Ir. Cidlene da Eucaristia

9 de junho de 2014

Espírito Santo Amor Eterno!

Vinde Espírito Criador!!!
Clamamos em virgília com toda a Igreja. Corações alegres, vibrantes, esperançosas em comunhão com cada intercessor. A virgília, em especial foi pela Vida Religiosa, em reparação as ofensas direcionada a esse jeito de ser de servir a Deus.
Para nós, foi noite e dia especial. Vidas reanimada, em Deus, pela força de seu Espírito.

Partilhamos poesia da  carmelita Santa Teresa da Santa Cruz (Edith Stein):

"Quem És, suave Luz que me sacias
E que iluminas as trevas do meu coração? 
Guias-me como a Mão de uma mãe, 
e se me soltasses 
não mais poderia dar um só passo. 
És o Espaço
que envolve o meu ser e me protege. 
Longe de Ti, naufragaria no abismo do nada 
de onde me tiraste para me criar para a Luz. 
Tu, mais próximo de mim 
do que eu própria, 
mais intimo do que as profundezas da minha alma, 
e contudo incompreensível e inefável, 
para além de qualquer nome, 
Espírito Santo, Amor Eterno!
---
Não és Tu o doce Maná 
que do coração do Filho 
transborda para o meu, 
o alimento dos anjos e dos bem-aventurados? 
Aquele que Se elevou da morte à Vida 
também me despertou do sono da morte para uma Vida nova. 
E, dia após dia, 
continua a dar-me uma Nova vida, 
de que um dia a Plenitude me inundará por completo, 
vida procedente da Tua Vida, sim, Tu mesmo, 
Espírito Santo, Vida Eterna!"

(Santa Teresa Benedita da Cruz, Edith Stein - OCD - Mártir, Co-Padroeira da Europa - Poesia Pentecostes 1942)


 Em música, confira a adaptação de Irmã Cidlene (Teresita):



25 de março de 2014

Irmãs Teresitas: 18 anos de um SIM à vontade de Deus

"Minh'alma glorifica ao Senhor,por que Ele fez em mim maravilhas!"

Irmã Alcilene em missão.
Hoje Deus cumpre mais uma promessa, firmando no seio da Igreja seu Projeto de Salvação, em seu Espírito, novo sopro, novo carisma! 
Quero expressar minha alegria de ser religiosa e Religiosa Teresita. Deus foi muito generoso para comigo em ter me chamado para esta família religiosa, por isso rendo louvores de gratidão e de grande exultação, porque o chamado do Senhor marca o meu, e nosso, novo nascimento. Nascimento espiritual gerado pela loucura da Fé e do Amor de três pessoas, Tia Fátima, Ir. Sônia e Ir. Cidlene. Vocês, em vossa pequenez, permitiram que o Senhor mudasse a direção de seus planos e projetos para que os nossos também fossem redirecionados ou para algumas, mudados radicalmente.


Ir.Sônia,Tia Fátima e Ir.Cidlene


Obrigada!! Pelas mortes dolorosas, vibrantes, alegres e cativadoras! Pelo sim decidido ao Amado Jesus. Vocês como um lápis nas mãos de Deus reescreveram minha vida, nossas vidas. Nos ensinaram a saborear o gostinho de sermos provadas pelo fogo e crescermos, mas principalmente testemunharam vivamente e de forma tão humana e sobrenatural o Amor de Deus. E como é maravilhoso deixar-se Amar por Deus!
Hoje construirmos juntas os novos passos e quero renovar diante de Deus, da Igreja e de vocês nossas madres, o meu "Sim para Sempre!" Quero com vocês ao lado, continuar esta construção.E peço a Deus que enquanto vida tivermos, nunca percamos o valor e a alegria de sermos uma Irmã Teresita.
Esses dias, em minhas orações por vocês, por nós, Deus me fez desejar intensamente novos mares, por isso hoje canto e convido todos  a renovar, como nos diz o Papa Francisco: "hoje mesmo a chama do primeiro amor". Ele sempre nos lançará para frente. São 18 anos que passam com suas riquezas que nunca voltarão, mas com um legado de evangelização e transformação social que ninguém poderá negar e esquecer. Ainda muito chão tem pela frente, sabemos disso, só que hoje é diferente, nós pisamos em solo firme e fértil, regado com o suor, as lágrima, pregações e espiritualidades de vocês Irmãs. 

Minhas coirmãs, aspirante, postulantes e jovens que aspiram por nosso carisma, ergamos a cabeça e façamos valer cada ato de puro amor que recebemos de nossas Madres. Vamos com coragem! Eu convoco, em nome de Jesus, à renovação de vossa juventude para o amor! O nosso Amado insiste que na Eucaristia nos entreguemos para a renovação dos corações. Sejamos luz! Irmãos leigos esta convocação se estende para você, não tenham medo da nova vida. Venham abracem conosco este carisma esta espiritualidade, vale a pena este caminho!

Parabéns Irmãs por vosso Sim!

Ir. Alcilene da Mãe da Divina Providência!

13 de março de 2014

Um encontro com o Amor de Deus

As Irmãs Teresitas em BHte, realizaram dia 08 de março, sábado pela manhã, o 1º Encontro de Formação para Assessores Mirins da Infância Missionária da Paróquia São Gabriel/BH-MG.  Foi um encontro com o "Amor de Deus". O tema querigmático, foi um atenção ao apelo do Papa Francisco: Ser discípulos missionários, anunciadores do amor de Deus. Os adolescentes e assessores vivenciam momentos de  oração, alegria, brincadeiras e partilha do lanche.     



5 de março de 2014

QUARESMA: caminho pessoal e comunitário de conversão


Unidas à Igreja de Cristo, somos chamadas a viver esse tempo quaresmal como um caminho pessoal e comunitário de conversão, atentas ao convite do Santo Padre, o Papa Francisco:

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA A QUARESMA DE 2014

Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza
(cf. 2 Cor 8, 9)

Queridos irmãos e irmãs!

Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algumas reflexões com a esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: «Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza» (2 Cor 8, 9). O Apóstolo escreve aos cristãos de Corinto encorajando-os a serem generosos na ajuda aos fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico?

A graça de Cristo

Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, Se fez pobre por vós». Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, «esvaziou-Se», para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2, 7; Heb 4, 15). A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade, Jesus «trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 22).

A finalidade de Jesus Se fazer pobre não foi a pobreza em si mesma, mas – como diz São Paulo – «para vos enriquecer com a sua pobreza». Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica. Não é assim o amor de Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Baptista para O baptizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas fá-lo para se colocar no meio do povo necessitado de perdão, no meio de nós pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a «insondável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8), «herdeiro de todas as coisas» (Heb 1, 2).

Em que consiste então esta pobreza com a qual Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada (cf. Lc 10, 25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação e verdadeira felicidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A pobreza de Cristo, que nos enriquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de Deus. A pobreza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente amada e ama os seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu «jugo suave» (cf. Mt 11, 30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua «rica pobreza» e «pobre riqueza», a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf.Rm 8, 29).

Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo.

O nosso testemunho

Poderíamos pensar que este «caminho» da pobreza fora o de Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d'Ele, podemos salvar o mundo com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que Se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de Cristo.

À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.

Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se vêem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus.

O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor. Unidos a Ele, podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana.

Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.

Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser «tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

 

Vaticano, 26 de Dezembro de 2013

Festa de Santo Estêvão, diácono e protomártir

 

FRANCISCO

 
fonte:http://www.news.va/pt/news/mensagem-do-santo-padre-para-a-quaresma-de-2014

10 de janeiro de 2014

A Alegria do Evangelho

"A Alegria do Evangelho: Nosso Carisma diante de um renovado convite!' Este foi o tema do nosso retiro anual que ocorreu do dia 04 ao dia 08 de janeiro de 2014. Dias de graça, amor e muita, muito alegria... O conteúdo baseado na Exortação Apostólica do Papa Francisco, Evangelli Gaudium.
É uma convocação, um apelo que fez ressoar em nossa alma nosso convite original de evangelizar com o anuncio explícito de Jesus Cristo como Senhor (EGnº110).

 "A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de convidá-los para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos." Papa Francisco

É tempo renovado do querigma, é de evangelizar. E nós seguimos nessa ALEGRIA.
Breve postaremos fotos do nosso encontro renovador. Pedimos a oração de todos nossos amigos e benfeitores.